domingo, 27 de maio de 2012


Os Sonhos


Todas as noites, enquanto você  dorme, um  mundo de fantasia  descortina-se e enredos são formulados de formas das mais inusitadas.

Por  Abnézer Lima da Silva

Você já passou por isso, tenho certeza, aquela parte que você  ainda não vivenciou; romances, fantasias, aventuras, guerras, batalhas, passado, futuro, lembranças da infancia, e talvez até mesmo do futuro. 

Civilizações diferentes, nunca antes imaginadas, o centro da terra, outros planetas e galáxias. 

Neste estado é possível vivenciar qualquer tipo de fantasia, aqueles desejos reprimidos  são permitidos em estado de vigília, situações aterrorizantes são experimentadas.
            
Podemos ser algozes e vítimas, perdedores e vencedores, experimentar a vida e a morte, passar por vários nascimentos, situações de guerra e bonança.

Tudo com muito realismo. 
E as alterações físicas experimentadas e analisadas em laboratórios não deixam dúvidas quanto a isso.

Batimentos cardíacos alterados, sudorese, aceleração respiratória, são alguns dos sintomas de quando se tem um pesadelo vivido.
    

A história e a  importância dos sonhos
Em toda a história nos deparamos com situações e relatos  de sonhos  como  mensageiros de divindades, quer seja nos relatos bíblicos,  na mitologia, antropologia, religiões, etc; que influenciou a vida de governantes,  de comunidades  e até como profecias de grandes acontecimentos.  

Nas Sociedades primitivas, os sonhos eram tão importantes que a primeira  atividade do dia era compartilhar os sonhos coletivamente.
   
Nas culturas da antiguidade, edificavam-se templos próprios para sonhar, pois  conferia-se aos sonhos um poder de cura, uma fonte  de verdades profundas.  

No entanto , a visão  de mundo baseada nos valores Newtoniana/Cartesiana, onde só é real o que pode ser explicado e comprovado por leis mecânicas, relegou os sonhos ao âmbito da subjetividade, da irracionalidade, não merecendo, portanto serem levados em consideração.                  

Freud em 1990, recupera o valor do sonho ao dimensioná-lo como realização de desejos e  um caminho para a compreensão do inconsciente. 

Jung amplifica  a importancia  do sonho no processo analítico ao o chamar de  mensageiro da cura, sabedoria intuitiva do inconsciente , mecanismo de auto regulação da psique, expressão do inconsciente coletivo.
   
Na  Psicanálise Integrativa, os vários personagens que aparecem nos sonhos, revelam traços de personalidade do próprio sonhador, a forma como ele conduz sua vida, e principalmente como ele vê os estados de consciência presentes. 

Sabemos que durante o sono manifesta-se uma consciência onírica mais ampla, diferenciada, que dedica-se a novas atividades interiores. 

Quanto mais cultivamos o nosso ser interior , mais os sonhos ganham realidade e significado. 

Na  atualidade, inúmeras  pesquisas tem sido realizadas em relação ao sono e sonhos e comprovam o que à séculos os antigos já previam. 

Esclarecem que  os sonhos são necessários para a manutenção da saúde e do equilíbrio emocional. 

Pessoas que são impedidas de sonhar  manifestam instabilidade, dificuldade de concentração, ansiedade e  agressividade.

Os sonhos , na concepção de Jung, expressam um auto retrato espontâneo , em forma simbólica , da real situação do inconsciente.  

Evidenciam uma situação específica e imediata de nossa vida.
Os vários personagens colocam em foco as diversas personalidades que coabitam em nós e compõe a nossa  totalidade.

As  imagens e personagens do sonho devem ser consideradas  como partes do sonhador e  de sua dinâmica interior. 

São mensageiros, mediadores entre o consciente e o inconsciente.

Mas para que servem os sonhos
Os sonhos tem por finalidade compensar unilateralidades e parcialidades da consciência , revelar problemas , atitudes e reações do sonhador.

Tem como objetivos oferecer os caminhos para a  solução dos conflitos, fornecendo respostas criativas, inspirações, orientações, conhecimento.

Os sonhos também corrigem distorções, fazem advertências, sinalizam e prognosticam os perigos e conseqüências decorrentes  de fixações em determinados estados  de consciência limitantes.

Eles permitem ainda o resgate de  memórias  pessoais e coletivas, bem como antecipar acontecimentos futuros, (sonhos de percepção extra sensorial). 

Podem ser recorrentes, com temáticas repetitivas, o que significa que a mensagem que o sonho deseja revelar não foi ainda codificada.

Referem-se 'a conteúdos que evitamos, não compreendemos ou ignoramos, ou que fizemos nada para solucionar.

O inconsciente insiste em oferecer oportunidades  de consciência , enviando mensagens, procurando um símbolo mais acessível e que o sonhador aceite. 

Uma vez que o conteúdo tenha sido integrado a  consciência , deixa de ser repetido.


A linguagem simbólica dos sonhos
É característica dos sonhos expressarem-se com imagens e em linguagem simbólicas, o símbolos provém de palavras gregas Sym(comum) e balon (Aquilo que foi lançado). 

Portanto , símbolo refere-se á união  de coisas que tem algo em comum.

Também é definido como imagem significativa. 
Jung concebe símbolo como a melhor apresentação possível  para um conteúdo psíquico relativamente desconhecido, que não pode ser descrito por uma única palavra ou idéia, que não está podendo ser compreendido e integrado 'a consciência.

O que já foi plenamente decodificado e compreendido deixa de ser símbolo e torna-se um sinal. os símbolos possuem uma dimensão individual e coletiva universal.

Costumam surgir em momentos de conflitos e de tensão entre opostos, quando nos sentimos perdidos ou confusos por não estarmos sabendo conduzir uma problemática interna ou externa.

A função do símbolo é fornecer esclarecimentos sobre a situação presente, bem como soluções através de sonhos, fantasias e imagens.

Favorecem a síntese dos opostos, a integração de aspectos inconscientes. 
Tem portanto uma finalidade curativa, auto reguladora e de amplificações de consciência.


Como interpretar os sonhos e obter respostas
Muitas pessoas, atualmente, já estão conscientes da importância  e do valor dos sonhos e habituaram-se a anotá-los sistematicamente estando ou não em um processo psicanalítico.

Muitos já se comportam diante dos sonhos de forma ativa. Antes de dormir fazem pedidos de sonhos, anotando com bastante objetividade a pergunta que esperam ver respondidas por ele. 

O objetivo que se espera então é obter resposta para os símbolos que podem surgir.

No intuito de responder a essas questões que se apresentam, muitas revistas e livros podem ser encontrados no mercado a fim de que os leitores possam obter  respostas as suas perguntas e assim orientar o leitor na sua interpretação, oferecendo  significados que podem  ser tomados por pesquisadores desesperados, como estanques, fixos, automatizados e definitivos, descaracterizando assim a definição de símbolo.

É importante esclarecer aos leitores que buscam o auxílio de dicionário de sonhos que interpretar é mais do decodificá-los isoladamente.

Interpretar pressupõe apreender  e respeitar todo o contexto do sonho em seus detalhes; conhecer a situação consciente do sonhador na época em que ocorreu o sonho e ter acesso as associações por ele  realizadas.

Ainda que determinado símbolo possa sugerir um significado, cada indivíduo pode atribuir a este um outro bastante diferente e particular.

As amplificações dos sonhos a partir das dimensões mais coletivas e universais dos símbolos podem ser valiosas, desde que efetuadas após o sonhador ter feito suas  associações pessoais e desde que seja capaz de estabelecer a relação entre o símbolo coletivo,efetivo e a sua vida, no momento presente.

A análise de apenas um sonho pode não fornecer muitos esclarecimentos. Por isso,  é interessante poder analisar uma série de sonhos.

Pode-se então, confirmar hipóteses ou fazer correções.
Um teste para saber se a interpretação funcionou é observar se possibilitou uma mudança na atitude consciente.

Na verdade, a interpretação de símbolos, quer em sonhos, fantasias ou imagens, é facilitada quando se tem conhecimentos multidisciplinares, mas como nos esclarece Jung, a arte de interpretar prescinde de métodos, normas e livros.

Não podemos deixar de contar é com a sensibilidade, com os nossos registros e conexões a partir da experiência de vida, intuição, criatividade, bem como disponibilidade e ousadia, para adentrar no novo e desconhecido com respeito a ética.

Dormir é a senha para o encontro consigo próprio, para a mobilização de energias curativas, para adentrar em inúmeros portais. 

Considerar e compreender os sonhos refletem uma atitude de acolhimento e respeito às mais variadas expressões e manifestações do ser, em todos os estados de consciência possíveis.

Técnica para lembrar de seus sonhos
Uma técnica que costumo ensinar a meus pacientes para se lembrar de seus sonhos é a seguinte:

No momento em que for dormir, deite-se confortavelmente em sua cama, com roupas leves e confortáveis, solte seu corpo, feche os olhos e respire fundo por umas três vezes, aproveitando ao máximo o potencial de seus pulmões. 

Dê as seguintes imagens mentais e ordens ao seu cérebro, " Vou dormir, e dormindo sei que vou sonhar, sonhos agradáveis e quando assim o fizer  ao acordar vou lembrar-me deles com facilidade". 

Sempre mensagens positivas ao seu inconsciente. 

Ao acordar após o sonho não abra os olhos rapidamente, mas permaneça com eles fechados e novamente formule a seguinte frase a você mesmo " Sei que sonhei e começo a me lembrar de tudo a partir de agora". 

Não se espreguice ou coisa parecida e abra os olhos lentamente, crie o hábito de manter um bloco de papel e caneta em sua cabeceira e anote rapidamente seus sonhos.



Francine Amaral
Psicoterapeuta Junguiana e Transpessoal
CRT 39323
f.:(11)5083 5312/cel.:(11) 8746 7646